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ENTREVISTAS

Entrevista com Ana Karina Fraga
Por Solange Santana - 11 de março de 2022

Bibliotecária formada em 2003 pela Universidade de Brasília, Ana Karina Fraga lançou recentemente seu primeiro livro Felicidade Hoje e Agora e fala ao Bibliotecários Escritores sobre sua trajetória profissional e literária e seu processo criativo.
 

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Ana Karina Fraga

Bibliotecários Escritores (BE): Conte-nos sobre seu livro de estreia Felicidade Hoje e Agora.

Ana Karina: Felicidade Hoje e Agora é o meu primeiro livro e espero que venham mais. As minhas crônicas são criadas a partir do que eu observo do ser humano e como ele lida com situações do dia a dia. Nesse processo de “colocar uma lente de aumento”, eu também me coloco como ser investigado. Por exemplo, hoje temos coach para quase tudo. Eu percebi que deixamos muito nas mãos dos outros as nossas resoluções, como lidar com situações, aí vem “Seja seu coach”, tome as rédeas da sua vida sempre. 

Felicidade Hoje e Agora nasce no auge da pandemia, como dever de casa da terapia de atendimento online que eu estava tendo. Como boa “vasculhadora do mundo virtual”, a psicóloga que me atendia falou: como você tem facilidade com as Letras (pois tenho como graduação incompleta Letras Português – Inglês) que tal você criar um Insta com os seus textos que podem ajudar outras pessoas. E foi assim, criei o @felicidadehojeagora no Instagram. Lá tem as reflexões de temas que permeiam nosso cotidiano sob a ótica de que sempre devemos nos ater a força que temos independente de sermos homem ou mulher.

A parte diferente da publicação desse compilado de temas do cotidiano vem da conversa com a psicóloga Carolina Prado, uma amiga de longa data que, ao observar meus textos na rede social Instagram com seu olhar clínico, vê ali um potencial para uma publicação, algo que nunca tinha passado pela minha mente.

Esse flerte com a editora foi feito todo pela Carolina Prado sem que eu mesmo imaginasse todo processo com editora. Eu só vi e senti a proporção de tudo isso quando ela já me mostra o livro impresso. A reação que eu tive foi não acreditar que aquele momento estava realmente acontecendo diante dos meus olhos.

BE: Como foi o início de sua trajetória literária? Quando e como começou a escrever textos literários?

Ana Karina: A minha trajetória, se assim eu posso dizer, começou quando sempre em datas comemorativas, como aniversários de amigos ou, por exemplo, Dia do Bibliotecário, eu escrevia textos únicos e especiais, muitos amigos diziam “Ana você é uma escritora nata”, ou “você escreve bem porque não publica esses textos”. Eu sempre “sofri” desse processo de negação, “imagina eu escrever, que nada, meus amigos são generosos no carinho com os meus textos”.

Como tudo se encaminha para o online, participo do grupo de Bibliotecários BiblioDF no aplicativo de conversas e fui convidada para escrever textos, crônicas divertidas sobre a nossa profissão, como encarar situações e opiniões. Como eu gosto de dar leveza aos escritos, nada melhor que escrever às sextas-feiras não é mesmo? O famoso sextou.

Ali, não era mais a Bibliotecária Ana Karina Fraga que escrevia. Eu saia de cena e entrava a Pesquisa Marota. Essa Pesquisa Marota discutia desde as Cinco Leis da Biblioteconomia, às Normas da ABNT, dizendo até que a norma que leva o número 6023 seria como “a nossa mãe colocando tudo no lugar”, uma homenagem especial pelo dia das mães.

O então presidente do CRB-1, Fábio Cordeiro, viu a Pesquisa Marota em um universo maior e levou para o site do CRB-1. Lá, os textos da Pesquisa Marota ganham ilustrações, com publicações sempre às sextas-feiras.

 

Posteriormente, a Pesquisa Marota ganha uma editoria sob minha responsabilidade: BIBLI-ON (disponível em https://crb1.org.br/site/biblion/). E, assim, aconteceu por três anos as publicações, mas como não era eu quem escrevia e sim a Pesquisa Marota, os textos tinham uma assinatura, uma despedida sempre encerrados com See you.

Então guardo dentro de mim a Pesquisa Marota e a Ana Karina com Felicidade Hoje e Agora.   

BE: Quais são suas principais influências literárias e autoras/es preferidas/os?

Ana Karina: A leitura vem comigo desde a infância, quem nunca leu a Coleção Vagalume? Ou se viu paralisado na riqueza de detalhes de Machado de Assis? E os textos do Érico Veríssimo... o que dizer? As cutucadas reais de Pedro Bial? Jorge Amado e vamos passear... por mundos e mundos.

 

BE: Como tem sido sua relação com os leitores?

Ana Karina: Quando tenho o retorno sobre Felicidade Hoje e Agora, muitos leitores se espantam em saber que sim sou tímida apesar de muito brincar, e quando o assunto é o que eu provoquei com os textos, sempre são reflexões do tipo “eu já passei por isso”, “penso assim também” ou “a partir de agora pensarei diferente”.

 

 

 

​​BE: Conte-nos um pouco sobre sua trajetória na Biblioteconomia e sua trajetória profissional?

Ana Karina: Amo estar perdida entre livros, histórias, títulos. Então por indicação de um grande amigo prestei vestibular para Biblioteconomia no ano de 1997. Foi amor à primeira vista, mas nunca imaginei, enquanto estudante, que eu poderia estar num futuro não em frente a uma estante, mas sim, fazer parte do acervo particular de alguém ou na biblioteca pública.

Já mais experiente, vi os meus textos de uma forma não muito convencional e que poderiam fazer cair por terra a imagem da bibliotecária sisuda, com cara de poucos amigos para alguém com leveza e, ainda assim, discutir e provocar temáticas que precisam de um novo olhar.

 

BE: Quais contribuições sua formação como bibliotecária trouxe ao seu trabalho literário? Que relações vê entre Biblioteconomia e literatura?

Ana Karina: Ah, minha doce amiga Biblioteconomia - vamos assim dizer - me deu uma espécie de free pass no parque de diversões na leitura, no mundo mágico das palavras e sentimentos. Muitas vezes, ao catalogar um livro de uma temática social, por exemplo, me despertam gatilhos de um texto, de um título, de uma reflexão... isso acontece mais do que muita gente imagina.

 

BE: Você participa de algum grupo e/ou espaço literário?

Ana Karina: Não e até me deu gatilho.

BE: Qual conselho você daria a alguém que quer começar a escrever, mas não se sente completamente seguro?

Ana Karina: Escreva, escreva e não tenha medo do que possa vir. Nunca deixe opiniões negativas tomarem conta do pensar. No início, mostre os seus escritos para os mais próximos e desafio também criar um ig com uma identidade secreta no qual assina não você da vida real e, sim, um personagem virtual.

 

 

 

BE: Quais seus próximos projetos?

Ana Karina: Continuar escrevendo e apresentar para o maior número de pessoas meu pensar por meio da leitura.

 

BE: Deixe-nos uma mensagem final:

Ana Karina: Seja o seu coach.

Ah, hoje em dia temos coach para quase tudo, bem como aconteceu com o personal. Temos personal trainee (aquele que pagamos para nos dizer o que já sabemos: vamos fazer exercício físico) e também tínhamos a pessoa que entrava na nossa casa para organizar tudo que via pela frente em desordem. E assim acontece agora com coach, pagamos para aprender que temos que trabalhar para ganhar dinheiro caso você não seja já herdeiro de algum bilionário (sim você terá que trabalhar por anos).

 

E quando falamos de encontrar a pessoa certa para dividirmos o que chamamos de amor, também podemos contar com a valorosa ajuda desse tal de coach. Mas ninguém nos explicou ainda que para tudo isso dar certo, teremos que ter uma boa dose de vontade de ir à luta, seja profissionalmente, como emocionalmente.

Então, se você descobriu que você é dono das rédeas da sua vida, meio caminho andado. Você está de parabéns! Corra atrás dos seus objetivos com unhas e dentes e não deixe que nada nem ninguém o atrapalhem.

 

Muitas vezes, deixamos de viver, pois acreditamos que uma segunda pessoa será a nossa mentora e responsável pelo nosso sucesso, mas se der errado ou que acharmos que não acertamos, o que o seu técnico terá a dizer? Persista, mude de estratégia, lembre-se “sou meu coach”.

A força de vontade é o motor essencial da vida. Nada adianta ler livros, participar de palestras se você não quiser que todos os seus sonhos se tornem a mais bela e pura realidade que chamamos de vida. Força e siga em frente hoje e sempre.

 

BE: Ana Karina, agradecemos por essa conversa alegre e motivadora. Desejamos que tenha muito sucesso em sua trajetória profissional e literária!

 

Gostou da entrevista com a Ana Karina Fraga? Ficou interessado em adquirir o livro Felicidade Hoje e Agora? Contate a autora nas redes sociais:

 

Facebook: https://www.facebook.com/ana.k.fraga

Instagram: @felicidadehojeagora |@karina42151 | @aninhakfraga2

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Livro Felicidade Hoje e Agora
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Entrevista com Maria das Graças Targino

Por Solange Santana -  27 de Fevereiro de 2020

“Há ainda [...] muito a ser dito ou desdito, muito a narrar, muito por que lutar e combater”, assim a professora, bibliotecária, jornalista e escritora Maria das Graças Targino apresenta seu mais recente livro de crônicas Amar, viver e escrever, publicado em 2019. É justamente por haver muito a ser dito – e escrito – que temos o prazer de estrear nossa coluna de entrevistas com a Professora Maria das Graças para conhecer um pouco mais sobre sua trajetória como escritora.

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Maria das Graças Targino
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Doutora em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília (UnB), a Professora Maria das Graças Targino nasceu em João Pessoa (PB), em 1948, e se formou em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 1968, e em Comunicação Social pela Faculdade Santo Agostinho, em 2006.

Após atuar por 25 anos na Universidade Federal do Piauí́ (UFPI), atualmente, é docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

 

Dentre prêmios recebidos em sua trajetória, estão o Prêmio Nacional Luiz Beltrão de Comunicação (Liderança Emergente), em 2004; Prêmio do Programa Informação para Todos (Information for All Programme, IFPI), promovido pela UNESCO, com a edição de sua tese de doutorado Jornalismo cidadão: informa ou deforma?, em 2009; Título de Cidadã Teresinense, em 2015; e Prêmio “Mérito Jornalístico”, ofertado pela Câmara Municipal de Teresina, em 2019.

 

A professora Maria da Graças também é colunista nas páginas INFOHOME, Uma Coisa e Outra - mantida pelo escritor carioca Celso Japiassu-, TUAVENTURA (Espanha) e JTNEWS.

Além de publicações na área de Ciência da Informação e Comunicação, Maria das Graças tem enveredando pela literatura como cronista. Publicou os livros Amar, viver, escrever (2019), Ideias em retalhos: sem rodeios nem atalhos (2014) e Palavra de honra: palavra de graça (2008), todos pela editora Halley.

Livro Amar, viver, escrever publicado em 2019

Confira a entrevista com a Professora Maria das Graças Targino

 

Bibliotecários Escritores (BE): Fale-nos como foi seu contato inicial com a literatura? Quais são suas primeiras memórias com a leitura literária?

Maria das Graças Targino (MGT): Cheguei ao mundo, em João Pessoa, no dia 20 de abril de 1948, numa família genuinamente paraibana: pai, mãe e todos os ascendentes diretos provenientes da Paraíba. Meu pai, família Targino, natural do município de Araruna, torna-se conhecido por sua personalidade revolucionária, por sua participação ativa na vida da cidade e do Estado. Autodidata no sentido literal do termo, com a separação dos pais, aos seis anos começa a trabalhar. Jornaleiro, balconista etc., mas antes de tudo, um teimoso diante dos embates da vida. Aos 10 anos, surpreende a todos por seu talento para as coisas da literatura. O jornaleiro transforma-se em poeta, jornalista, escritor e ghost writer para os políticos locais. Chega a ocupar, durante longos anos, o cargo de superintendente de uma companhia de seguros, à época, a de maior credibilidade. Ao morrer de infarto fulminante, aos 42 anos de idade, deixa, segundo os diários de então, um grande vazio no jornalismo local, recebendo homenagens póstumas, como uma rua com seu nome no bairro Altiplano (João Pessoa). Minha mãe, família Leite, ao contrário do meu pai, pertence ao meio “aristocrático”, onde sobram preconceitos e falta complacência. Aluna da então famosa Escola Doméstica de Natal também se destaca por sua inteligência brilhante, como professora primária, no município Conceição de Piancó e nas cercanias. Casam-se, em meio a tantas diferenças de origem. Após dois anos, nasce a minha irmã mais velha, Henriqueta e a cada dois anos, novo filho: Roberto (in memoriam) e eu, Maria das Graças. Para surpresa de todos, depois de sete anos, chega meu terceiro irmão, que ganha o nome de meu pai: Pedro Targino da Costa Teixeira [Filho].

Cresci entre o eixo Recife - João Pessoa. Aos três anos, deslocamo-nos de João Pessoa para Recife, em busca do “sonho da cidade grande”, embora as propriedades de minha mãe, gerenciadas pelo meu pai, fazendeiro-poeta a quem os “colonos” amam de paixão por sua irreverência e espontaneidade, estejam situadas na Paraíba. Assim, não perdemos o elo com o Estado natal. Aos meus 10 anos, os médicos descobrem problemas cardíacos em meu pai. A conselho médico, retornamos a João Pessoa, cidade de melhor qualidade de vida. Completo 12 anos em abril. Meu pai tomba numa rua qualquer da capital paraibana, na manhã do dia 12 de maio de 1960. Voltamos a Recife, onde minha mãe permanece até o final de sua vida, partindo aos céus em 1993. Na atualidade, os irmãos moram em Estados diferentes. Para surpresa de muitos, mantemos até hoje ligação muito forte. “Queta” está em Recife, ao lado do marido, filhos maravilhosos, genro, nora, netos, bibliotecária de formação, dona de casa por opção e escultora por vocação. “Beto”, veterinário, casado, sem filhos, morre como nosso pai e, também, em João Pessoa. Eu, aqui, Teresina. Meu irmão “Lilinho”, em Boa Vista, Roraima, trabalha na Infraero.

Como decorrência do meio familiar, cresço em meio a livros, revistas (a saudosa “O Cruzeiro”), almanaques, enciclopédias, revistas em quadrinhos, etc. etc. Sofro influências decisivas de meu pai. Dele, herdo o gosto pela leitura, a valorização pelo processo de aprendizagem. Leio, praticamente, todos os escritores e poetas, considerados, à época, grandes nomes nacionais e estrangeiros, tais como José de Alencar, Franz Kafka, Marcel Proust, Honoré de Balzac, José Lins do Rêgo, Machado de Assis, Fedor Dostoiévski, Érico Veríssimo, Augusto dos Anjos e muitos outros. A cada leitura, nova surpresa, razão pela qual evito, sempre, mencionar livros-chave, em se tratando da minha formação como leitora. Temo cometer injustiças. De uma forma ou de outra, todos os personagens, incluindo os de Jorge Amado, estão em meus sonhos, ao lado de Luluzinha e Bolinha, que pulam das histórias em quadrinhos e se perdem nos caminhos da modernidade (seja lá o que isso for!).

É ainda de meu pai, que recebo por herança, num mesmo “pacotaço”, o temperamento irrequieto, a vontade de escrever, a compulsão de acreditar nas pessoas, na vida, nos sonhos. Por tudo isto, tenho o orgulho de dizer que meu pai está em mim. Esta ânsia de viver, de falar, de contar mágoas, fracassos, tristezas, dores e alegrias, ele a possuía. E me deixou. É um legado precioso. Pequena ainda, aprendo a enfrentar a solidão, a não possuir máscaras, a me desnudar diante da vida, numa busca quase obsessiva de autenticidade e verdade. Como decorrência, a morte do meu pai, dentre todos os acontecimentos que marcam minha infância e adolescência, é a dor maior. Passo a vida inteira buscando “pai”, querendo “colo”, um “desassossego” só...

Assim foi meu contato inicial com a literatura. Assim, são minhas primeiras memórias com a leitura literária.

 

BE: Como foi o início de sua trajetória literária? Quando e como começou a escrever textos literários?

MGT: Sempre escrevi, mas demorei a publicar textos literários, salvo poucas crônicas veiculadas em jornais e revistas locais, devido ao envolvimento “prematuro” com o universo da Biblioteconomia. Na verdade, o meu primeiro texto publicado no renomado “Jornal do Commercio”, Recife – Pernambuco, até hoje existente, data do dia 16 de junho de 1968 (ainda na graduação). Guardo como relíquia por algo a mais do que apreço aos meus escritos – o tema? Adivinhem? A morte do livro frente à evolução das microformas... Depois de décadas, o tema volta por conta do avanço das tecnologias de informação e de comunicação... Retorno o tema e a certeza de que o livro sobreviverá.

Afinal, aos 20 anos, concluí a graduação, como aluna laureada e segui com um diploma na mão para viver no Piauí. Após dois anos no município de Piripiri, onde o pai de meus dois filhos fora designado para efetuar a eletrificação rural de parte do Estado, seguimos para a capital. Somente em Teresina, voltei à Biblioteconomia.

 

Fui a primeira profissional da área a atuar no Estado. Lembro-me bem. Assumi a direção da Biblioteca Pública Estadual. Exatamente, no mês de setembro, quando completaria meu segundo ano à frente daquela instituição querida, a Universidade Federal do Piauí (UFPI), em fase de implantação, instituiu concurso público para bibliotecário. Era o ano de 1972. Consegui o primeiro lugar e começamos o processo de implementação da Biblioteca Central, hoje, Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello Branco. Não nego. A Biblioteca Central da UFPI foi minha grande paixão de vida e sua equipe, cerca de 54 servidores, à época, uma grande família. Devo a ela muito do que consegui realizar como profissional. Imensa gratidão à minha equipe. Em sua administração, mantive contatos mil com outras instituições congêneres, brasileiras ou não. Fui a numerosos seminários, congressos e similares. Frequentei uma série infindável de cursos visando ao meu aprimoramento profissional, incluindo aperfeiçoamento em Biblioteconomia Médica, Especialização em Organização de Bibliotecas Infanto-Juvenis e Escolares, além do primeiro curso no exterior, na Inglaterra, através da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Ministrei cursos de auxiliar de biblioteca, ao longo do interior do Piauí por anos e anos, bem como cursos em diferentes instituições, sobre arquivo, administração de bibliotecas, técnicas de recepção, técnicas de protocolo, relações humanas e comunicação.

Além dessas atividades, assumi, por seis anos, a representação estadual do então Instituto Nacional do Livro. Criei a Associação dos Bibliotecários do Estado do Piauí. Estive à frente da Delegacia Estadual do Conselho Regional de Biblioteconomia durante muitos anos, atuando, também, no espaço de quatro anos, como conselheira do Conselho Federal de Biblioteconomia, com sede em Brasília – Distrito Federal. E o que é interessante. Mesmo afastada da Biblioteca Pública em 1972, permaneci afetivamente ligada a ela, e de 1975 a 1979, vinculada oficialmente, como Coordenadora dos Serviços de Bibliotecas da Fundação Cultural do Piauí.

Mais adiante, convites para ministrar cursos em outras universidades brasileiras, alguns dos quais na pós-graduação: Universidade de Fortaleza, Universidade Federal do Pará, Universidade Federal do Amazonas, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Universidade Estadual de Santa Cruz, Universidade Estadual do Maranhão, Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal do Maranhão e várias outras entidades, com a ressalva de que fui Professora visitante nessa última. Cursos sobre filosofia da Biblioteconomia, redação técnico-científica, elaboração de projetos de pesquisa, bibliotecas universitárias, entre outros temas correlatos. Participação em mais dois cursos no exterior, financiados, respectivamente, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq e pelo British Council. Palestras. Consultorias, inclusive junto ao Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). Participação em congressos e similares, agora, também, como palestrante ou debatedora ou pesquisadora.

De fato, foram anos e anos de muito trabalho e dedicação à Biblioteconomia e áreas correlatas. No mínimo, 10 horas diárias de trabalho, incluindo sábados, feriados e domingos, além de tarefas levadas para casa. Onde o tempo para os textos literários? Assim, comecei a produzir uma larga produção técnico-científica, mas para os que observam bem, meus textos sempre tiveram um “pé na literatura”, porque lutei muito para transmutar a redação técnico-científica em algo prazeroso de ler... Por tudo isto, não sei exatamente quando o texto literário “me agarrou” e não mais me largou... No meio de tudo isto, devo dizer que meu ingresso no Departamento de Comunicação / no Curso de Jornalismo como docente durante anos a fio, e, bem depois, a minha graduação em Jornalismo, mesmo após o doutorado em Ciência da Informação, foram elementos decisivos para mim como escritora. Meu pós-doutorado, cujo resultado, o livro Somente como exemplo, há 16 anos, assino uma coluna semanal em jornal de Teresina, “O Dia”; há nove anos, coluna bimestral no INFOHOME, Florianópolis; há 10 ou mais anos, contribuições sistemáticas junto à página eletrônica umacoisaeoutra, mantida pelo escritor Celso Japiassu; e na página eletrônica TUAVENTURA, Espanha, na condição de corresponsale, também há cerca de 10 anos. Recentemente, passei a assinar coluna na página eletrônica JTNEWS.  

 

Por tudo isto, afirmo que o início de minha trajetória literária é difuso e, quiçá, inerente ao meu próprio viver.  

 

BE: Como é o seu processo criativo?

MGT: Fácil. Fácil de descrever. Não sigo regras. Sou instintiva. Os temas vêm em momentos os mais inesperados. Uma palavra solta ao vento. Uma discussão sobre alguma temática em sala de aula. Um fato real. Um fato próximo. O africano distante. A mulher assassinada. Um olhar crítico de alguém sobre o outro.

 

BE: Quais os temas abordados em sua obra?

MGT: Não precisa muito. É somente dar uma “olhadela” no sumário de qualquer um dos meus três livros de crônicas: “Palavra de honra: palavra de graça”; “Ideias em retalhos: sem rodeios nem atalhos” e este último “Amar, viver, escrever”, e a resposta virá. Eis alguns dos temas mais recorrentes: imigração; o envelhecer; o amanhecer; amor / desamor; ser-mulher; violência doméstica; violência urbana; terrorismo; educação; docência x vocação; saúde pública; orientação sexual; preconceitos; mudanças sociais, econômicas e tecnológicas; uso de celular x selfies x solidão. Há resenhas de livros e de alguns filmes. Relatos de viagem, etc. etc.

           

Falo essencialmente da vida cotidiana... 

 

BE: Como foi o processo de chegar até uma editora e publicar seu primeiro livro?

MGT: Nunca é fácil. É preciso ter objetividade. Originais bem cuidados. Revisão acurada. Público-alvo definido. Linguagem acessível a esse público-fim. Até os dias de hoje, sempre e sempre, peço para uma ou duas pessoas revisarem qualquer texto meu a ser publicado. Uso a expressão “leitura de inimigo.” Vario de interlocutor para que as pessoas não esgotem a paciência com tantos pedidos. Isto se chama humildade intelectual: estar pronto a aceitar pontos de vista diversos e rever itens nos quais derrapamos. Além disto, é preciso manter discurso afinado com a editora... e coragem... muita coragem. Os nãos virão. Os sim, também, aqui e ali.

 

O processo inicial de publicar...

 

BE: Quais são suas influências literárias e autores preferidos?

MGT: Com certeza, esta resposta está “escondidinha” na questão número um, quando afirmo: “[...] evito, sempre, mencionar livros-chave, em se tratando da minha formação como leitora.” Acrescento, porém, que leio sempre. Na minha mesinha de cabeceira, sempre há algum livro à espreita. Leio de tudo um pouco. Como escritora, é sempre prazeroso (re)visitar o brasileiro Jorge Amado e Augusto dos Anjos; o colombiano Gabriel José García Márquez; o português José de Sousa Saramago; “nosso” Chico Buarque de Holanda, em especial, a obra Gota d'água, que deu origem à peça teatral homônima ou vice-versa. O caçador de pipas, de Khaled Hosseini, romancista e médico afegão, naturalizado norte-americano; Sapiens: história breve da humanidade..., de Yuval Noah Harari, historiador e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, nos parecem imperdíveis. Há muitos outros mais...

           

Influências literárias e autores preferidos se renovam...

 

BE: Como tem sido o trabalho de divulgação de seus livros?

MGT: Alguns amigos mais próximos, às vezes, cheios de pudor, insinuam que se eu tivesse acesso às grandes editoras e distribuidoras, minha vida literária teria sido mais glamourosa. Escuto e sorrio. Na verdade, a divulgação dos livros literários é extremamente difícil quando se reside fora do eixo Rio-São Paulo. Sem qualquer complexo de nordestino! Ao contrário! É o enfrentamento da realidade. As condições e os centros de produção estão concentrados no Sudeste e no Sul, regiões onde estão o maior número de universidades com melhor infraestrutura; os investimentos mais elevados em ciência e tecnologia; e, obviamente, as melhores editoras e livrarias. Logo, os produtores do centro-sul – cientistas, cronistas, escritores em geral – têm maiores chances de acesso às fontes de informação e de distribuição. É o velho jargão: “as águas correm para o mar.” Em outras palavras, a distribuição é um grande problema que enfrento com coragem. Digo que faço eu mesma com “cara-de-pau” e a ajuda de alguns grandes amigos. É uma jornada de “formiguinha.” Envio e-mails, utilizo as redes sociais, telefono... É um processo que requer persistência e perseverança...

Produção x divulgação x distribuição: eterno dilema.

 

BE: Como é sua relação com os leitores?

MGT: Amor e respeito: respondo a todos que se manifestam. Agradeço eventuais elogios e analiso possíveis críticas!

           

Amor e respeito! Palavrinhas mágicas!

 

BE:  Reiteradamente ouvimos que "o brasileiro lê muito pouco.” Como a vê essa afirmação?

MGT: Verdade! Mas há que levar em conta o preço dos livros; as coleções desatualizadas das bibliotecas, em geral; os hábitos familiares; a concorrência das tecnologias, e assim sucessivamente. Não há uma resposta única, porque os fatores intervenientes são muitos. Às vezes, não visíveis, e, sim, subjacentes às questões culturais, econômicas e sociais do Brasil.  

           

Acrescento: os professores costumam ler?

 

BE: Fale-nos um pouco sobre sua trajetória na Biblioteconomia e sua trajetória profissional?

MGT: Acredito que consulta ao Lattes assegura resposta às duas questões e a apresentação inicial lhes darão mais subsídios. Não quero cansar nosso leitor...

 

BE: Quais contribuições sua formação como bibliotecária trouxe ao seu trabalho literário? Que relações vê entre Biblioteconomia e literatura?

MGT: Aqui, confesso, “de cara lavada”, que a Biblioteconomia, minha primeira formação de graduação, foi um “acidente” ou “incidente.” Vida inteira pensei em geologia, pois os mistérios da terra me encantavam. Só que, por uma questão maior _ “filha de viúva “direita” não se envolve em profissões de homem” _ minha mãe, alegando minha pouca idade e eventual imaturidade, permitiu que eu me matriculasse no vestibular tão somente de Biblioteconomia, considerada, naquela ocasião, “profissão feminina”, ideal para “moças de boa família.” E foi assim que ingressei na então Faculdade de Biblioteconomia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), aos 17 anos, depois de conseguir o primeiro lugar no vestibular. A bem da verdade, preciso dizer que nunca culpei minha mãe por isto. Compreendi a força de seus preconceitos e foi com essa profissão que deslanchei em minha vida acadêmica e profissional, relatada nos itens iniciais. Dentre os argumentos utilizados por minha mãe, estava meu amor aos livros e aos cadernos, onde estava sempre a rabiscar alguma coisa. Afinal, quando criança, preferia livros a bonecas. Quando adolescente, preferia livros a namorados (mais adiante, não foi assim, risos!!!). E é evidente que, ao lidar com a informação, não importa o suporte, o bibliotecário mais atento não tarda a descobrir a magia da palavra escrita e o prazer de produzir. Porém, acrescento, não reconheço a relação intrínseca ou indissociável: Biblioteconomia x literatura. Quero dizer, a Biblioteconomia lhe favorece se descobrir escritor, mas há algo a mais...

 

Biblioteconomia e literatura: relações existentes, mas tênues.

 

BE: Qual conselho daria a alguém que quer começar a escrever, mas não se sente completamente seguro?

MGT: Curiosidade e humildade intelectual! São os primeiros passos! Avante!

 

BE: Você participa de algum grupo e/ou espaço literário?

MGT: Sim, sistematicamente, sempre, participei de saraus, clubes de leitura, cineclubes e atividades similares, não importam as nomenclaturas diferenciadas. Não vale ir uma vez ou outra. É preciso compreender que as pessoas crescem em ambientes como esses, Como nos faz crescer!

Participem!

 

BE: Existe algum livro que você gostaria de ter escrito?

MGT: Nem penso para responder: “O amor nos tempos do cólera”, do citado Gabriel García Márquez.

 

BE: Quais seus próximos projetos?

MGT: Como diz o aluno que vai se submeter a qualquer exame, “estou com tudo na cabeça.” Verdade! Sonho em preparar um livro de viagens que não se limite a dar “dicas”, mas, sim, a explorar as particularidades de algumas coletividades com quem tive a chance de conviver nos 68 países que visitei e/ou onde vivi. Tenho lido alguns livros nessa linha, tais como “Um lugar na janela”, de Martha Medeiros; “Vietnã pós-guerra”, de Airton Ortiz e “Comer, rezar, amar”, Elizabeth Gilbert. Quero encontrar meu próprio caminho. Longe da descrição pura e simples ou da condição de “guia de viagem.” Vou ver no que vai dar e se vai dar...

 

BE: Deixe-nos uma mensagem final 

MGT: Hoje, aos 71 anos – idade que jamais pensei alcançar – por uma única razão: sempre me pareceu longínqua e eterna, não sei quem sou. Professora, escritora com livros publicados na área de biblioteconomia e comunicação, contista, cronista, mulher, mãe, avó, amante, amiga, tia, vizinha. Não sei o que sou. Apesar de ter vivido até hoje nos palcos da vida que são as salas de aulas, sinto-me tímida. Olho com orgulho os corajosos que se autorrotulam com adjetivos magníficos e atributos invejáveis. Olho para dentro de mim. Vejo uma mulher que não sabe quem é...

Quem sou eu? Uma mulher com alma de criança, que ainda acredita no amor, nos sonhos e no outro.

Quem sou eu? Uma mulher sempre com o dedo no gatilho para apontar e apostar em novos caminhos. Um novo livro em estilo ensaístico. O ano de 2020 ainda me levará à Etiópia ou alguns meses na Índia, quem sabe? Talvez, sim! Talvez, não!

Quem sou eu? Uma mulher que carrega consigo um saco de sonhos que se sobrepõe a um saco de desilusões.

Com a convicção de que não há três estágios distintos, em termos de história de vida, ou seja, passado, presente e futuro se entrelaçam e se fundem, a tal ponto que é impossível analisar alguém num único momento de vida, hoje, o que sou, tem muito a ver com meu passado e com o que serei amanhã. Julgo-me alguém extremamente perseverante, inquieta, irrequieta, irreverente, verdadeira, preocupada com as outras pessoas, leal, aberta a inovações, mas extremamente só, no sentido mais intenso da solidão humana, qual seja, os sentimentos mais profundos são, sempre intransponíveis. Por tudo isso, adoro mil coisas e a vida. O voluntariado me acalma e me faz bem. Faz parte de minha vida. Amo cinema e teatro a tal ponto que já me arrisquei em ambos, não como espectadora... Dezembro de 2018, me arrisquei uma vez mais, desta vez, como modelo na condição de noiva “madura” (risos!!!) para um curso na área de uma universidade local, no maior shopping de Teresina, lá vai eu. Adoro praia e campo. Desde 1976, faço tapeçaria quase que compulsivamente. Faço pintura de porcelana porcamente. Tenho muito cuidado com meu físico e há anos, mas confesso: venho descuidando mais e mais!  E como gosto de idiomas! Estudo, ainda hoje, para garantir a manutenção de inglês, francês e espanhol e PORTUGUÊS! Acabo de chegar de um curso da língua italiana por 90 dias, na Università per Stranieri de Siena...

 

 

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Contate a autora pelo e-mail gracatargino@hotmail.com ou pelo Facebook Maria das Graças Targino

 

PARA SABER MAIS

 

- Confira a vídeo-resenha do livro Amar, viver, escrever, produzida por Sander Brown

 

- Entrevista ao programa Bom Dia (06.05.19) - livro Amar, Viver, Escrever

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